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Fígado lesionado por substâncias para emagrecer e mais: entenda novos dados sobre morte de Paulinha Abelha
Cantora de 43 anos teve um quadro complexo de saúde associado à falha grave no órgão responsável por metabolizar e eliminar substâncias tóxicas do corpo

Publicado em 08/03/2022 09:22

Foto/Reprodução


Um fígado debilitado por um mix de substâncias tomadas para dormir, ficar alerta, ganhar definição muscular e, principalmente, emagrecer pode ser a principal chave para entender o quadro que terminou com a morte da cantora Paulinha Abelha, que tinha 43 anos.

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Com base nos resultados divulgados na segunda-feira (7) de um exame toxicológico e de uma biópsia, além da lista de medicamentos receitados para a cantora antes da internação, o g1 ouviu especialistas que explicam:

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  • quais as substâncias tomadas pela artista,
  • para que elas servem,
  • quais as possíveis complicações que elas causam,
  • as lacunas que ainda persistem sobre o que ocorreu com a vocalista.

Antes de uma análise geral dos medicamentos, conheça em três pontos um resumo do que dizem os exames médicos e o que consta na receita:

  1. Resultado da biópsia (laudo anatomopatológico): exame mostra lesão hepática aguda com necrose. Traduzindo: o fígado da cantora estava fortemente debilitado, com áreas mortas. Além disso, tinha retenção de bile no fígado (colestase). O fígado, entre outras funções, é responsável por eliminar substâncias tóxicas por meio justamente da bile. O laudo não crava, mas diz que as lesões são compatíveis com as provocadas por medicamentos.
  2. Exame de substâncias tóxicas no corpo (triagem toxicológica): Deu positivo para duas substâncias: 1) anfetaminas (remédios que agem no cérebro aumentando estado de alerta e que têm efeito sobre o apetite) e 2) barbitúricos (sedativos e calmantes). Deu negativo para outras 10 substâncias, incluindo drogas.
  3. Receita de medicamentos: o receituário assinado por uma médica nutróloga indicava um conjunto com 7 medicamentos ou fórmulas. Ao todo, eram 18 substâncias. Na análise dos especialistas consultados pelo g1, o foco dessa lista era inibir a absorção de carboidratos, gordura, atuar no humor, no sono e apoiar nos treinos físicos para ganhar passa muscular.

 

A avaliação geral de dois hepatologistas e uma nutricionista após uma avaliação dos laudos e os itens que constam na receita é:

 

"O principal a apontar é essa "salada de compostos" na receita. Com uma certa frequência eles interagem entre si e podem resultar em danos sérios ao fígado", avalia Mário Kondo, professor adjunto de gastroenterologia da UNIFESP e hepatologista do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo 

Para Vanderli Marchiori, nutricionista e fitoterapeuta com especialização em medicina complementar:

"Sem dúvida alguma, era uma pessoa que tomava remédio para dormir e para acordar. E para se manter magra o tempo inteiro. E, infelizmente, talvez até de acordo com o tempo de uso, o organismo não deu conta", afirma Vanderli.
 

O hepatologista Raymundo Paraná, professor titular da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e membro da Sociedade Brasileira de Hepatologia, avalia:

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"A intoxicação por fórmulas (para emagrecer) eu vejo com frequência no SUS e na clínica privada. A frequência é assustadora. Felizmente, a imensa maioria evolui bem com a suspensão. Só poucos tem desfechos gravíssimos", afirma Paraná.

Quais os remédios e substâncias tomadas por Paulinha?

A receita com sete tópicos tinha três dedicados a medicamentos alopáticos (da medicina tradicional, normalmente agem produzindo efeitos contrários aos da doença, por exemplo, antidepressivos ou antibióticos).

Para além dos remédios tradicionais, a lista tinha uma série de suplementos alimentaresextratos de plantas e fitoterápicos (obtidos de plantas medicinais ou de seus derivado, utilizados com finalidade profilática, curativa ou paliativa).

Para que servem as substâncias e os medicamentos receitados?

Os remédios listados tinha como função regular o humor, sono e apetite.

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Entre os tradicionais, o primeiro da lista era o bupropiona, um antidepressivo que costuma ser usado em tratamentos para deixar de fumar, mas ela também é eventualmente receitado por atuar contra a compulsão por doces, segundo Vanderli Marchiori.

"O perfil de segurança é bem satisfatório para o seu uso isolado, mas tem muitas interações medicamentosas perigosas. É preciso cautela quando é usado com outras medicações", alerta o hepatologista Raymundo Paraná.

Outro remédio alopático da lista é o venvance, usado para tratar hiperatividade e déficit de atenção, mas que também pode ser aplicado em tratamento contra transtorno alimentar. É da classe das anfetaminas, substância que apareceu positiva no laudo.

"Pode causar agressão hepática, mas não é habitual se usado isoladamente. Tem muitas interações medicamentosas nefastas sobretudo com antidepressivos. Pode causar arritmia e não deve ser usado em pacientes com insuficiência renal", explica o hepatologista Raymundo Paraná.

Por fim, o Orlistat fecha a lista dos remédios tradicionais voltado especificamente para o emagrecimento: age no intestino. Ela inibe uma enzima produzida no pâncreas, a lipase, que faz a ingestão de gorduras. Isso faz com que cerca de 30% da gordura ingerida na alimentação seja eliminada nas fezes.

"Seu efeito adverso é a perda de continência, eliminando gorduras através do ânus. O indivíduo pode passar por situações vexatórias, por isso o próprio paciente diminui a ingestão de alimentos gordurosos. Em relação ao fígado é muito seguro, mas tem casos de hepatite.

Na outra metade da lista o foco das outras quatro fórmulas e suplementos era:

  • acalmar, reduzir estresse e ansiedade;
  • ajudar no combate da insônia e a manter a atenção;
  • impede a absorção de carboidrato;
  • ganho de massa muscular.
 

Como as fórmulas ou extratos não possuem uma padronização de dosagem para uso ou mesmo não foi possível localizar estudos de eficácia científica, o g1 não vai listar os nomes de todas as substâncias que as compõem.

Veja reportagem completa com mais detalhes direto do G1


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