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Quem é DJ Ivis, paraibano astro da pisadinha que eletrizou o forró e assustou o sertanejo
"Se eu não fizer diferente, vou ter que esperar alguém fazer. E eu não quero esperar ninguém", conta o artista.

Publicado em 11/06/2021 12:06

Foto/Reprodução


FOLHAPRESS — Quando começou na música, há cerca de 15 anos, Ivis não comandava picapes. Na verdade, tocava teclado. Mesmo assim, recebeu o apelido de DJ. "Nessa época, eu era tão doido que tocava com quatro, cinco teclados.

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Por mais que eu nem usasse todos, mas estava lá. Sempre gostava de fazer algo diferente", ele diz.

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Produtor, cantor, compositor e, claro, tecladista, Ivis hoje atende se você o chamar só de DJ. Seu carimbo — um tipo de identificação no meio das músicas — não traz um nome, e diz só que "é mais uma do DJ".

Ivis certamente não é o único, mas não há dúvidas de que se tornou o DJ mais bem-sucedido do forró e do subgênero da pisadinha, sendo peça fundamental no processo de eletrificação do ritmo nordestino.

Também empilha hits, próprios ou na voz de outros cantores. Atualmente, tem quatro entre as 50 músicas mais tocadas do Spotify no Brasil —"Volta Bebê, Volta Neném", com o DJ Guuga, "Não Pode se Apaixonar", com Xand Avião e MC Danny, "Esquema Preferido", com Tarcísio do Acordeon, "Volta Comigo BB" e "Cadê o Amor", ambas com Zé Vaqueiro, com quem também divide o sucesso "Letícia".

Na plataforma de streaming, atualmente, tem quase 8 milhões de ouvintes mensais, à frente de Gusttavo Lima e Marília Mendonça, por exemplo. Isso sem contar os hits que ele emplacou nos últimos meses, como "Basta Você Me Ligar", com os Barões da Pisadinha, e "Cidade Inteira", com Eric Land, além de músicas com Raí Saia Rodada e Naiara Azevedo, entre muitos outros.

Mas apesar do sucesso recente, a caminhada de Ivis é antiga. Ao longo da última década, ele foi de tecladista irrequieto a produtor inovador e super-DJ de um ritmo que historicamente tem mais intimidade com os instrumentistas.

Paraibano, Ivis largou a escola comum e a escola de música na adolescência e começou a tocar com bandas de bairro. Tocava swingueira, como é chamado o pagodão baiano e seus derivados em alguns lugares do Nordeste

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Quando fui para esse lado musical de tocar forró, me convidaram e eu tinha dito que não, porque para um tecladista que tocava swingueira, a gente fazia muita zoada. Numa banda de forró, o cara fazia uma harmonização, um pianozinho. Falei 'quero nada'."

Só aceitou entrar num grupo de forró quando pudesse "fazer o que fazia na swingueira". "Pedi para comprar um computador e uma controladora, porque na época não tinha essas coisas. Meu irmão, comecei a fazer mais zoada ainda e a usar sample. Falavam que meu teclado era de videogame."

Nas casas de show de João Pessoa, era comum ver Ivis soltando samples de vozes engraçadinhas, como o meme "Ronaldo", famoso na época com o programa Pânico.

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"A galera olhava e pensava 'porra, esse cara é muito doido'. De repente, começaram a ficar na frente do palco, pedindo 'Ronaldo'. Eu ia lá e [soltava o sample] 'Ronaldo'."

Mas a grande virada de sua carreira veio há cerca de dez anos, quando decidiu que seria compositor. Começou a usar o Twitter para oferecer suas músicas a cantores famosos. Quando conseguiu emplacar duas delas, o que chamou atenção do cantor Romim Mata, na verdade, foi sua habilidade como produtor.

"Não tinha dinheiro para mandar alguém produzir, contratar arranjador. Eu mesmo produzi, gravei com a minha voz. Ficou uma merda, mas ele perguntou quem estava produzindo, quem tinha feito o arranjo."

Mata integrava a banda Forró Estourado, que no começo da década passada já tinha uma proposta que hoje se tornou quase regra — fazer música para os sons automotivos e paredões do som. "Galera que curte um #eletronico #estourado, estou começando a produzir algumas músicas. Prepara logo teu paredão", Ivis chegou a tuitar.

O "teclado de videogame" havia encontrado um terreno fértil para se expressar, mas a ascensão veio com "Seresta de Luxo", seu primeiro disco solo, de 2015, um protótipo da estética que firmou anos depois. As músicas estouraram em Alagoas, e ele recebeu dois convites para integrar o Aviões do Forró, uma das grandes bandas nordestinas deste século.

Chamado para ser tecladista, ele recusou. Só com a promessa de que seria também produtor, ele aceitou. Viveu a traumática separação da banda, com a saída da vocalista Solange Almeida e, com ela, todos os instrumentistas — incluindo o ícone Riquelme, baterista. Ivis participou da reconstrução da carreira do líder do grupo, Xand Avião.

"Comecei a colocar algumas ideias minhas, de teclado eletrônico e tudo mais. Bati de frente com músicos e com produtores", ele conta.

Ivis participou da retirada de metais, backing vocais e dançarinos do grupo, uma decisão tão esperta quanto polêmica, que desempregou músicos e influenciou as grandes bandas do estilo a seguirem o mesmo caminho. "Levei uma culpa que não tive sozinho. Mas, como já disse, não tenho nada a perder."

Quando, em 2019, os Barões ganharam o Brasil com a pisadinha — o estilo de forró sintético, meio lo-fi, baseado em teclados —, era como se os planos de futuro de Ivis tivessem se concretizado. "Essa onda de teclado não é de hoje. Isso vem de Frank Aguiar, Cintura de Mola, Washington Brasileiro, Zezo dos Teclados e Pepe Moreno. A grande diferença é que os Barões criaram um ritmo e uma identidade nova. Tocando as músicas que o povo queria ouvir num novo ritmo dançante."

Expoente dessa renovação eletrônica do gênero, que hoje disputa de igual para igual as posições de mais tocadas com o funk e o sertanejo, o DJ extrapola o rótulo da pisadinha e vem testando os limites de sua estética. "Volta Comigo BB", hit com Zé Vaqueiro, mistura A-ha e pisadinha sem nenhuma cerimônia.

Em "A Recaída", também do cantor de quem Ivis é diretor artístico, ele sampleia e dialoga com "What Is Love", hit eurodance de Haddaway, de 1993. Enquanto isso, compõe com DJs de funk e cantores sertanejos, sem perder de vista o brega romântico. Também continua trabalhando com Xand Avião e tocando sua carreira solo.

Até no jeito de se vestir, DJ Ivis — que usa o bordão "diferente de tudo, diferente de todos" — tenta passar uma imagem de independência. Usa shorts curtos coloridos, camisas floridas e modelos Gucci ou Prada, muitas vezes com um chinelo. "Defendo o forró e tudo que eu puder juntar com forró vou juntar. Mas não sou de artista de segmento. Faço música."

Quando a pandemia arrefecer e os eventos voltarem, Ivis pretende pôr o apelido em prática e se tornar o primeiro grande nome do forró a comandar multidões tocando só computadores e caixas de som. 

"Nunca teve de fato um DJ no forró. Se você vai montar uma grade de festival no Nordeste, tem que chamar alguém de fora. Se eu não fizer diferente, vou ter que esperar alguém fazer. E eu não quero esperar ninguém."

É mais uma do DJ.


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