Revoltante
Padre suspeito de desviar R$ 140 milhões de hospital filantrópico na Paraíba teria forjado compra de 38 monitores na pandemia
Nesta sexta-feira, o religioso teve a prisão preventiva mantida após audiência de custódia e seguiu para a Penitenciária Especial do Valentina de Figueiredo

Publicado em 18/11/2023 20:10

Foto/Reproducao


“Uma espécie de farra com o dinheiro público”, definiu a promotoria do Ministério Público da Paraíba, em trecho da denúncia apresentada contra o padre Egídio de Carvalho Neto, de 56 anos.

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O ex-presidente do Instituto São José, responsável por gerir o Hospital Padre Zé, em João Pessoa (PB), está preso, acusado de ter chefiado um esquema de desvio e lavagem de dinheiro público por pelo menos dez anos à frente da instituição filantrópica. Enquanto a unidade de saúde operava com dificuldades e acumulava cada vez mais dívidas, deixando desamparados pacientes em situação de vulnerabilidade, o líder religioso teria tocado um gabinete de corrupção que lhe garantiu uma vida de luxo e ostentação.

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Nesta sexta-feira, o religioso teve a prisão preventiva mantida após audiência de custódia e seguiu para a Penitenciária Especial do Valentina de Figueiredo. As investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) elencam que o padre, durante todo este período:

  • Adquiriu 29 imóveis luxuosos, em estados como Paraíba, Pernambuco e São Paulo;
  • Investiu em projetos de reforma e arquitetônicos;
  • Quitou dívidas com dinheiro do instituto;
  • Comprou ao menos dois carros considerados de alto padrão;
  • Fez questão de mobiliar suas casas com obras de arte e relíquias religiosas que eram adquiridas em nome do hospital;
  • Esbanjava adegas com um “sem número” de bebidas alcoólicas, com média de R$ 1 mil cada;
  • Pagou a faculdade de Medicina do sobrinho em São Paulo, com mensalidades de R$ 13 mil;
  • Levava uma vida incompatível com o salário de cerca de R$ 15 mil: elevou seu rendimento mensal médio para R$ 140 mil.

Renda decuplicada

Para colocar o esquema de pé por uma década, padre Egídio teria formado uma parceria com a diretora do hospital, Jannyne Dantas Miranda e Silva, e com a tesoureira do instituto e da unidade de saúde, Amanda Duarte Silva Dantas. Elas também foram presas.

O MP afirma, com base nas investigações, que há indícios de que o trio teria praticado crimes de lavagem ou ocultação de bens e valores, peculato, falsificação de documentos públicos e privados e organização criminosa.

Com o esquema, o padre teria conseguido multiplicar em aproximadamente dez vezes seus rendimentos mensais. Entre janeiro de 2021 e setembro de 2023, as investigações apontam que ele movimentou R$ 4,5 milhões — uma renda de pelo menos R$ 140 mil por mês.

“Muitas das pessoas ouvidas durante a fase investigatória afirmaram que Egídio funcionava como verdadeiro ‘Monarca’, que não poderia ter contestada suas decisões, sob pena de severas punições. Funcionários do Hospital Padre Zé eram compelidos a acatar as ordens de Egídio, mesmo sabendo que manifestamente ilegais, para não serem prejudicados com uma demissão. O perfil de ditador também foi destacado nos depoimentos colhidos, principalmente de que tudo deveria ser do feito dele”, narra a denúncia.

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Desvio de R$ 363 mil em aparelhos para tratamento de Covid-19

Um dos episódios que mais chamaram atenção dos promotores teria acontecido em 2021, em plena pandemia da Covid-19. Uma auditoria feita recentemente pela atual gestão do Hospital Padre Zé descobriu que Egídio teria autorizado a compra de 38 monitores multiparamétricos — essenciais para o tratamento de pessoas com Síndrome Respiratória Aguda Grave —, no valor de R$ 363,9 mil, com recursos adquiridos por meio de convênio com a prefeitura de João Pessoa.

Os aparelhos, que tratariam pacientes pobres com Covid-19, nunca teriam sido entregues. Em diálogo obtido pelos investigadores, a diretora Jannyne Dantas afirma, por áudio, que os monitores de fato não foram entregues e que “a nota fiscal seria fria”.

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